domingo, 11 de setembro de 2011

Atividade de interpretação de textos e conhecimentos linguísticos

A atividade sugerida a seguir visa a trabalhar conhecimentos de leitura e gramática nas séries finais do Ensino Médio. O gabarito será publicado uma semana após esta postagem.


Texto I

Saúde e sociedade


Os temas relacionados à saúde pública são escorregadios porque muito facilmente deixamos de pensar como sociedade, trazendo para o nível coletivo vivências particulares. A legitimidade da visão individual é inquestionável, não deve ser jamais desconsiderada, especialmente quando revela a dor humana e injustiças. Porém, é preciso saber discriminar a importância da visão coletiva e as escolhas que, como indivíduos, deveríamos saber fazer. Por trás de muitos temas de saúde pública reside o permanente questionamento sobre que tipo de sociedade queremos ser e pertencer.

Como na rosa-dos-ventos, poderíamos utilizar quatro pontos cardeais para situar os argumentos técnicos e favorecer o uso da racionalidade num campo tão subjetivo e facilmente apelável ao sensacionalismo: a ameaça à saúde e as doenças das pessoas. Como os pontos cardeais Leste e Oeste, o deslocamento no eixo horizontal partiria da visão mais pessoal/individualista para a coletiva/sociedade e a vertical, Norte e Sul, permitiria que nos deslocássemos dos níveis de conhecimento mais superficiais aos mais complexos. Cada extremo funciona como um tensor. Saber situar seus argumentos nos eixos e encontrar a combinação ideal de forças entre escolhas individuais e coletivas pode ser um sinal de evolução e desenvolvimento social.

A legítima preocupação do atual ministro da Saúde com temas como aborto, quebra de patentes (entre outros que ainda estão por vir à tona), ilustra o quanto estamos despreparados, como sociedade, para uma discussão madura e profunda. Não é um simples "sou contra" ou "sou a favor", como se escolhêssemos um time. É um exercício de abstração que nos faz sair de nossas necessidades autorreferenciadas em direção a um desejo de ser social que passa, obrigatoriamente, por uma reflexão sobre o tipo de sociedade que queremos.

A economia parece ter respondido muito bem ao tensor relativo às liberdades individuais e é praticamente consenso que o sistema capitalista atende satisfatoriamente ao bem-estar individual a um número cada vez maior de pessoas. Na área social, o campo da saúde revela e desmascara nossas contradições e nos coloca frente a frente com escolhas difíceis, mas, em algum momento, incontornáveis. Quando aprendemos como sociedade, vivemos melhor. Basta olhar algumas décadas atrás e observar a influência positiva das campanhas contra o tabagismo, a vida sedentária, o sexo sem proteção, entre outras contribuições.

A discussão sobre saúde num país democrático deve levar em consideração simultaneamente a liberdade individual e o bem-estar coletivo, sendo, portanto, análogo ao questionamento sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter. Posições muito polarizadas, em geral, são ineficientes. Em assuntos complexos, a razão deve prevalecer. Usando a imagem da rosa-dos-ventos, seria bom buscarmos um acerto no cruzamento dos dois eixos, confluindo para o ponto ideal entre os argumentos, todos legítimos, que vão do nível máximo de superficialidade e individualidade, comuns em encontros sociais onde se compartilham experiências trazidas pela doença de alguém, até a complexa visão sobre sistemas e modelos de atenção à saúde, tanto público quanto privado.


(Flávia Poppe – Jornal do Brasil, 25/5/2007)

1) No que se refere à estruturação argumentativa do texto ‘Saúde e sociedade’, assinale a alternativa que indica a estratégia de persuasão empregada para garantir a eficácia dos argumentos:

a) a definição de expressões relacionadas à saúde pública
b) o uso de exemplificações
c) a comparação de opiniões
d) a apresentação de dados estatísticos
e) a alusão a testemunhos

2) No 1º parágrafo do texto, a posição definitiva do enunciador localiza-se no seguinte argumento:

a) a legitimidade da visão individual
b) a visão individual ser indiscutível quando evidencia dor humana e injustiças
c) as vivências particulares não poderem ser jamais desconsideradas
d) a necessidade de saber discriminar a importância da visão coletiva e das escolhas individuais
e) a transposição de vivências individuais para o nível coletivo

3) Em uma interação, são empregadas estratégias de preservação do enunciador com o propósito de simular o não comprometimento com o que está sendo enunciado. Assinale a alternativa em que NÃO há marca linguística dessa estratégia de preservação:

a) “A legitimidade da visão individual é inquestionável, não deve ser jamais desconsiderada...” (l. 2-3)
b) “Não é um simples "sou contra" ou "sou a favor", como se escolhêssemos um time.”       (l. 19-20)
c) “... e é praticamente consenso que o sistema capitalista atende satisfatoriamente ao bem-estar individual a um número cada vez maior de pessoas.” (l. 25-26)
d) “Posições muito polarizadas, em geral, são ineficientes.” (l. 35)
e) “... confluindo para o ponto ideal entre os argumentos, todos legítimos...” (l. 37-38)

4) “A discussão sobre saúde num país democrático deve levar em consideração simultaneamente a liberdade individual e o bem-estar coletivo, sendo, portanto, análogo ao questionamento sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter.” Assinale a alternativa em que a reescrita da frase ALTERA seu sentido original:

a) Num país democrático, a discussão sobre saúde deve considerar, ao mesmo tempo, a liberdade individual e o bem-estar coletivo, sendo, pois, análogo questionamento sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter.

b) O questionamento sobre saúde deve levar em conta, num país democrático, a liberdade individual e o bem-estar coletivo simultaneamente, sendo semelhante, por isso, à discussão sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter.

c) O questionamento sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter deve considerar simultaneamente a liberdade individual e o bem-estar coletivo, sendo, por conseguinte, análogo à discussão sobre saúde num país democrático.   

d) O questionamento sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter é análogo à discussão sobre saúde num país democrático, pois ambos devem levar em consideração concomitantemente a liberdade individual e o bem-estar coletivo.

e) A discussão sobre saúde deve levar em consideração, num país democrático, a liberdade individual e o bem-estar coletivo simultaneamente, sendo, entretanto, análogo ao questionamento sobre o tipo de sociedade, Estado e governo que gostaríamos de ter.

5) É possível depreender, a partir da leitura, que o texto I propõe, entre os vocábulos presentes no título, a seguinte relação:

a) independência
b) pertinência
c) interdependência
d) insubordinação
e) alternância

6) Considere o fragmento seguinte para responder às questões:

Saber situar seus argumentos nos eixos e encontrar a combinação ideal de forças entre escolhas individuais e coletivas pode ser um sinal de evolução e desenvolvimento social.

a) Identifique o sujeito do sintagma verbal ‘pode ser’.

b) Observe a seguinte reescritura. “Saber situar seus argumentos nos eixos e o encontro da combinação ideal de forças entre escolhas individuais e coletivas pode ser um sinal de evolução e desenvolvimento social.”

Se o fragmento fosse reescrito dessa forma, haveria um problema de paralelismo sintático.
Comente a afirmativa em destaque.


7) Considere o seguinte fragmento: “até a complexa visão sobre sistemas e modelos de atenção à saúde, tanto público quanto privado” (5º parágrafo).

Se o vocábulo em destaque fosse substituído pelo sintagma nominal ‘programas de saúde’, o acento indicativo de crase se manteria? Justifique.


Texto II

Militares contra a dengue


A guerra contra a dengue no Rio ganhará, esta semana, o apoio das Forças Armadas, conforme anunciou, em Washington, o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A notícia chega já com certo atraso, visto que mais de 32 mil cidadãos fluminenses tombaram doentes este ano, com cinco dezenas de óbitos. Se não pode ser revertido, o quadro grave tende a ser minimizado com o reforço de soldados das três armas.
A estratégia de combate deve ser discutida ainda hoje, na primeira reunião do gabinete de crise criado pelo Ministério da Saúde para que as autoridades federais, estaduais e municipais possam trabalhar juntas na guerra ao mosquito. A ideia é que os militares montem hospitais de campanha em locais de grande circulação - como fizeram na fugaz intervenção federal decretada no sistema de saúde do Rio, há três anos.
A ajuda é mais que bem-vinda, num momento em que a situação nos postos de saúde da rede pública é desesperadora: pacientes com sintomas da doença aguardam horas na fila de atendimento e muitas vezes são instruídos a voltar outro dia. A rede privada também está sobrecarregada, segundo dados da Federação de Hospitais Particulares do Estado. Só com o esforço conjunto e bem articulado das três esferas de governo, e com o apoio da sociedade, o Rio começará a vencer a batalha.


Texto III

COMO COMBATER A DENGUE NA SUA CASA


v  Retire a água de embalagens, latas, copos plásticos e tampinhas.

v  Deixe os pneus em local seco e protegido da chuva ou jogue-os fora em lugar apropriado.

v  Jogue fora as garrafas PET e as de vidro vazias que não for usar ou vire-as de cabeça para abaixo, para que a água não fique armazenada.

v  Não deixe acumular água em vasos de plantas e jarros de flores.

v  Tampe caixas-d’água, tambores, latões e cisternas para impedir a entrada do mosquito.

v  Feche bem os sacos plásticos e mantenha a lixeira tampada e seca.

v  Trate a água da piscina com cloro e limpe-a uma vez por semana.

v  Guarde vasos e baldes vazios de boca para baixo.

v  Lave bem o suporte de garrafões de água mineral.

v  Esfregue, por inteiro, com escova e sabão, em água corrente, os potes em que os animais de estimação bebem água, mesmo as bordas, pois os ovos do mosquito podem sobreviver sem água por períodos de 1 ano ou mais.

v  Deixe as tampas dos vasos sanitários sempre fechadas. Em banheiros pouco usados, deve-se dar descarga uma vez por semana.

v  Nos cemitérios, coloque terra ou areia nas floreiras e jardineiras, evitando o acúmulo de água e a formação de criadouros de mosquitos.

v  Mantenha as calhas do telhado desobstruídas.

(Texto adaptado da cartilha distribuída pelo Ministério da Saúde em 2008)

8) Os textos II e III apresentam pontos de divergência e convergência. A que se deve a convergência existente entre os textos?

9) Os textos II e III divergem quanto ao propósito de comunicação. Quais são os propósitos de cada texto? Responda, identificando a função de linguagem predominante nos textos.

10) No texto III, uma das instruções se afasta do que foi proposto no título. Transcreva essa instrução.

11) Campo semântico é o agrupamento de palavras por afinidade de sentido.
No texto III, é explorado um campo semântico relativo ao vocábulo ‘militares’, presente no título do texto. Destaque um sintagma nominal e um verbal pertencentes a esse campo semântico.

12) O texto I aponta a dificuldade de se pensar na coletividade em detrimento do individual e, ao mesmo tempo, mostra como isso tem êxito quando se consegue conscientizar uma sociedade.

a) Transcreva do texto I um trecho que revele a eficácia de programas de conscientização da coletividade.

b) Como o texto III se relaciona a essa proposta do texto I?